Após publicar artigo “Ganho acima da inflação no Judiciário extrapola várias vezes o do funcionalismo”, em 8 de janeiro, entidades representativas dos servidores, como a AASPTJ-SP, Affi, Ajesp, Aojesp e Assetj, assinaram em conjunto uma nota de resposta e enviaram ao jornal. A resposta foi publicada nesta segunda-feira, 3 de março, no painel Tendências e Debates, página A4.
O artigo está disponível aqui e abaixo na íntegra:
Supersalários: disparidades e estigmas sobre os trabalhadores do Judiciário
Folha induz leitor a acreditar que toda a categoria desfruta de vencimentos exorbitantes, reforçados com ‘penduricalhos’ e reajustes acima da inflação
No dia 8 de fevereiro, esta Folha publicou em sua versão online a reportagem “Ganho acima da inflação no Judiciário extrapola várias vezes o do funcionalismo”; no dia seguinte, foi estampada na Primeira Página da edição dominical impressa. Esta não é a primeira vez que o jornal aborda a questão salarial do Judiciário brasileiro.
Entretanto, assim como em outras ocasiões, a Folha comete o erro de generalizar, colocando toos os servidores no mesmo “balaio”. Essa abordagem é preocupante, pois ignora as profundas diferenças salariais existentes no Judiciário.
A reportagem induz o leitor a acreditar que todos os trabalhadores do Judiciário desfrutam de salários exorbitantes, complementados por “penduricalhos” e reajustes acima da inflação, o que não corresponde à realidade. Embora uma parcela de privilegiados receba remunerações elevadas, por vezes alcançando cifras milionárias, a imensa maioria dos servidores, incluindo os do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), enfrenta um cenário bem diferente.
Em tempos de inflação crescente e desvalorização da moeda, escreventes técnicos, oficiais de justiça, assistentes sociais, psicólogos, contadores e agentes judiciários do maior Tribunal de Justiça do mundo em número de processos recebem salários que, em muitos casos, mal suprem as necessidades básicas. Atualmente, os servidores do TJ-SP enfrentam uma defasagem salarial aproximada de 30%, o que significa a perda de um terço do poder aquisitivo.
Além do salário-base, esses servidores têm direito a poucos auxílios — e que estão longe de serem os chamados “penduricalhos”. É fundamental destacar que, mesmo quando recebem reposição salarial, os reajustes raramente acompanham a inflação acumulada. Deve-se ressaltar ainda que, durante o período pandêmico, os servidores tiveram seus salários congelados.
Não por acaso, muitos servidores estão endividados, com suas margens de crédito consignado totalmente comprometidas — uma clara consequência da política de desvalorização e do descaso com essa categoria.
O jornal não apenas pode como deve falar sobre os “supersalários” no Judiciário e em outros órgãos públicos. No entanto, tem o dever de adotar uma postura mais responsável e transparente ao abordar essa questão, distinguindo claramente as diferentes categorias e expondo a realidade enfrentada pela maioria dos servidores. São esses profissionais que, com dedicação, mantêm o Judiciário funcionando de maneira eficiente e justa.
A publicação de informações precisas sobre os vencimentos deve refletir a realidade, evitando desinformação, confusão e preconceitos. O compromisso com a verdade deve ser uma regra no jornalismo.
Por essa razão, as entidades de classe dos servidores do Judiciário de São Paulo repudiam veementemente a narrativa adotada pela Folha e esperam que, a partir deste episódio, o jornal reveja sua abordagem, denunciando as distorções salariais, mas sem prejudicar aqueles que não têm responsabilidade pelas desigualdades existentes.
Assinam este artigo:
Ednaldo Aparecido Batista (Apatej), Cássio Ramalho do Prado (Aojesp), Maricler Real (Aasptj), Adolfo Benedetti Neto (Assojuris/Sinjuris), José Gozze (Assetj), Helen Patricia Merina (SindUni) e Nilma Isabel Ribeiro (Ajesp).
As entidades de classe Affocos, Assojubs, Sintrajus, Exefe, Assisjesp, Asserjud e Affi subscrevem este artigo.
